Aproveitando nosso tempo na África do Sul, alugamos um carro para conhecer um pouco da costa oeste parando pelas charmosas praias e cidades no caminho. Passamos por 15 cidades, algumas muito bem estruturadas e modernas, e outras mais carentes e parecidas com outros lugares da África que conhecemos.
A primeira parte do trajeto é conhecida como “Garden Route”, que vai da Cidade do Cabo até Port Elizabeth. Nossa primeira parada foi em Hermanus, uma cidade pequena, mas repleta de casas de alto padrão, restaurantes e cafés. É conhecida como uma das melhores cidades do mundo para observar baleias. Mas, infelizmente, na época em que estávamos lá (janeiro) é o período mais difícil de encontra-las, pois é quando ocorre a migração e elas vão para a Antártica. O melhor período é de junho a novembro, quando, mesmo da praia, é possível avistá-las. Ficamos lá porque acerca de 40km fica Gangsbaai, um dos melhores locais da África para mergulhar com os tubarões brancos. Neste passeio, as pessoas ficam mergulhadas em jaulas, em baixa profundidade, para ver os tubarões ao redor ou mesmo bem próximo da jaula. Os guias não alimentam os tubarões, mas os atraem com iscas específicas. O Mau e o Felipe, nosso amigo brasileiro que veio fazer essa parte da viagem conosco, encararam a aventura. Os dois estavam empolgadíssimos no início, mas voltaram, eu diria que, satisfeitos. Foi divertido, mas eles esperavam ver mais tubarões e ter mais adrenalina. Talvez os tubarões já estão ficando acostumados de tanta gente que faz esse tipo de passeio.
Seguindo viagem, paramos em Mossel Bay para almoçar, mas a cidade não nos atraiu muito. A praia era rochosa e não muito confortável para passar o dia. Resolvemos seguir viagem e paramos em Knysna. Uma ótima surpresa! A cidade é bem estruturada e tem até um waterfront (píer) descolado, com restaurantes, lojas e um bom estacionamento. A região tem vários lagos, e na própria cidade, do alto de suas montanhas (Knysna Heads), é possível observar o encontro do Knysna Lagoon com o oceano. A vista é linda.
Aproveitamos para curtir um dia de praia. Escolhemos a Buffalos beach para passar o dia. Se não fosse o sol de rachar e a falta de um guarda sol, teria sido perfeito. A praia é ótima, segura para nadar, água morna, chuveiros de água doce e banheiros públicos espaçosos.
Tudo na África do Sul fecha cedo, mas em Knysna eram 21h30 da noite e não se via mais ninguém nas ruas e os restaurantes já estavam até se preparando para fechar. Apesar da gente, que está acostumado com os serviços 24 horas, reclamar nestas horas, será que isso é tão ruim assim? Com certeza a qualidade de vida destes trabalhadores é melhor do que as de muitas pessoas em condições semelhantes. Em um café, vi uma placa que diza: “Horário de Funcionamento: Segunda a Sábado: 8h às 16h - Domingo: Surfing”
Saindo de Knysna, encontramos a charmosa cidade de Plettenberg Bay. A vista do mar era tão incrível que resolvemos parar o carro e admirar a paisagem. O contrate das faixas de areia branca com o degrade do azul do mar parecia uma pintura. Nossa vontade era de passar uma noite por lá, mas já tínhamos reservado hotel em Jeffreys Bay, então seguimos viagem.
No caminho, perto de Storm River Mouth, passamos pelo Tsitsikamma National Park e o famoso Bloukrans Bungy. O maior bungy jump do mundo numa ponte (bungy bridge) com 216 metros de altura. O Felipe encarou a experiência e amou o salto.
Chegamos em Jeffrey’s Bay morrendo de fome. Acabamos escolhendo um restaurante bem tradicional que guardava quadros com fotos e histórias da cidade no auge das décadas de 60 e 70. Na década de 60, quando haviam 3 surfistas no mar, era sinal de praia lotada, e um prato de fish and chips chegava a custar 25 centavos. A balada noturna era fazer fogueira e observar as estrelas. Um artigo do jornal Sunday Times na década de 70 contava que as meninas fugiam de suas casas em Johannersburg, Durban e Cape Town, cujos os padrões e costumes da época eram bem rigorosos, para viver com os surfistas hippies em Jeffrey’s Bay. O objetivo do artigo era reprimir os jovens da época, mas seu efeito foi inverso e acabou aumentando ainda mais a popularidade da cidade.
Nos dias em que estávamos lá, não vimos as famosas ondas gigantes, mas o tempo estava agradável e a cidade é muito gostosa. Além das ondas, os surfistas também se divertem nas lojas de fábrica de famosas marcas de roupa de surfe como Billabong, Element e RVCA.
Port Elizabeth é uma cidade grande e movimentada, particularmente uma das minhas preferidas. As praias são grandes e ótimas para nadar. Tem vários restaurantes e cafés na orla da praia e um calçadão para caminhadas. Um casal sul africano na praia nos disse que se mudaram para lá há 10 anos e se sentem morando num resort.
Fomos no complexo do luxuoso Boardwalk Hotel, que além de seu Casino, tem diversos restaurantes, lojas e até um cinema. Um estilo um pouco americanizado, gostoso de dar um passeio no final da tarde e esperar o escurecer para ver o lago iluminado.
A região de Port Elizabeth fica perto de várias reservas onde é possível fazer safari. Depois dos grandes parques que visitamos na África, resolvemos experimentar um safari em uma pequena reserva privada. Encontramos o Kragga Kamma que fica há 20 minutos da cidade. O dia estava terrível, chovendo muito. Mas como era um safari mais barato ,resolvemos arriscar (custa US$6,50 por pessoa e você pode visitar o parque com seu próprio carro). Por causa do mau tempo, não tinha ninguém no parque. E, para nossa surpresa, foi muito divertido! Assim que entramos no parque, um grupo de zebras, girafas e wildbeast cruzaram a estrada bem na nossa frente. Eles estavam tão perto que tivemos que esperar para conseguir passar. Vimos rinocerontes, avestruz, empalas e outros pequenos animais. Dentre os felinos, o parque tem apenas cheetas, mas não conseguimos vê-las. Para uma tarde chuvosa, foi muito mais divertido do que ficar em casa.
Seguindo na estrada, paramos em Colchester pois era perto de duas reservas: o Addo Elephant National Park e o Scotia Game Reserve. Muita gente opta pelos safaris em grandes reservas e parques nacionais, justamente pelo seu tamanho. Mas, as vezes, uma reserva privada de menor porte pode ser mais fácil para ficar pertinho dos animais. Só é preciso achar uma que tenha os animais que você quer ver. Nós escolhemos conhecer o Scotia e não nos arrependemos. Ficamos frente a frente com os leões e os rinocerontes, que renderam várias fotos incríveis e vimos uma manada de elefantes com um bebê que tinha acabo de nascer e ainda estava aprendendo a andar. Muito lindo.
De todos os safaris que fizemos pela África, nosso preferido foi o Parque do Serengeti na Tanzânia, mas todos os outros valeram a pena, cada um da sua forma.
Depois da Garden Route, que termina em Port Elizabeth, começa a região chamada “Wild Coast”. E como o nome diz, tudo passa a ser mais selvagem. A paisagem muda, as casas começam a ficar mais simples e os sinais de carência e pobreza começam a se sobressair. Nosso objetivo era chegar em Coffee Bay e confesso que não foi tão simples. Já era tarde, o dia começou a escurecer, precisávamos de gasolina e não víamos mais postos de combustível como antes. A estrada que leva a Coffee Bay é um pesadelo. A gente queria chegar antes de escurecer, mas era impossível pela quantidade de buracos que tinha no caminho. Mesmo no asfalto, o cuidado tinha que ser redobrado para não furar o pneu. Na pequena cidade que, na verdade, é um vilarejo, as estradas são de terra. A melhor coisa seria ir com um carro 4X4, mas não era nosso caso.
A principal atração em Coffee Bay é fazer uma caminhada pelas montanhas beirando a costa que leva ao chamado “Hole in the Wall”. Depois descobrimos que também dá para chegar de carro, só que as condições da estrada não são muito amigáveis. Vale muito a pena fazer a trilha, que leva cerca de 3 horas e tem uma paisagem sensacional. Acho que é uma das trihas mais bonitas que já fiz. Mesmo na hora do cansaço, após uma longa subida, só de dar uma paradinha para olhar a vista, já carrega as energias. É preciso um guia para mostrar o caminho, e nosso guia era muito falante. Ele adorava contar sobre os costumes da cultura xhosa, predominante na região. Segundo ele, nos costumes xhosa, são os homens que devem pagar para a família de suas futuras esposas. O pagamento são cerca de 20 vacas e as mulheres não tem o direito de recusar o marido. Os homens podem ter quantas esposas quiserem. Ele disse que a mãe dele foi pega à força pelo seu pai depois de ter acordado o casamento com a família dela. Contou também uma história maluca de seu tio que foi torturado por ter sido pego com a mulher de um outro homem, além de sua experiência após ter sido circuncisado e ter que viver 6 meses em uma pequena casa no meio do mato. Eu não sei até que ponto tudo isso é verdade, mas acabou entretendo a longa caminhada.
De Coffee Bay fomos para Durban, numa longa viagem com mais de 7 horas de estrada. Não tínhamos muito tempo na cidade, e escolhemos 3 locais para visitar. Primeiro fomos conhecer o estádio Moses Mabhida, construído para a Copa do Mundo de 2010, e que fica perto da região do casino SunCoast, que é bem gostosa para caminhar no calçadão de frente para o mar. No estádio, é possível fazer o chamado “swing”, mas que parece um bungy jump. A gente esperava um “voo” sobre o estádio, mas nos pareceu mais uma queda livre, e ninguém se empolgou para experimentar. Nossa escolha foi uma tarde divertidíssima no Ushaka Marine World. O aquário mais legal que fomos na África. Fica dentro de um falso navio abandonado. Tem salas com tudo de ponta cabeça como se o navio tivesse virado no fundo do mar. Ao lado, um parque aquático que, mesmo entrando 2 horas antes de fechar, deu para dar muita risada e se divertir igual criança nos grandes tobogãs. Para finalizar, um jantar na Florida Road, rua conhecida pela variedade de restaurantes e bares durante a noite.
Finalmente, depois de mais 5 horas de boas estradas, chegamos em Johannesburg. Apesar de ser a maior cidade da África do Sul, grande polo comercial e industrial do país, não foi um local que nos motivou a ficar muito tempo.
Nossa opção foi procurar um pouco mais de história sobre essa cidade tão marcante na vida dos sul-africanos. Escolhemos visitar o Apartheid Museum. Logo na entrada, você é rotulado e deve verificar qual entrada tem que se dirigir: "Brancos" ou "Não-brancos". Os tickets são emitidos aleatoriamente, somente para entrar no clima. O museu conta a história do regime vivido pela África de 1948 à 1994. Tem muitas fotos e vídeos, tanto das manifestações nas ruas, quanto da luta de Nelson Mandela contra a discriminação. O poder do som, as imagens e o que se vê nas telas, choca e emociona. O museu é grande e me impressionou pela riqueza dos detalhes. Valeu a visita!
Fomos também ao Soweto, que muita gente denomina como a favela de Johannesburg. Mas, na verdade, Soweto é uma cidade vizinha de Johannesburg, estabelecida em 1963 por reunir um conjunto de bairros para negros que, na época do Apartheid, não podiam morar nas áreas reservadas para os brancos. Não é uma região totalmente segura, mas nos surpreendeu pela organização e tipo das casas que vimos na vizinhança, bem diferente de regiões semelhantes no Brasil. Nós fomos até a casa de Nelson Mandela, que hoje é um pequeno museu, mas não valeu a visita. A casa é pequena e não tem muita coisa interessante, apenas alguns poucos troféus e condecorações que Mandela e sua esposa receberam ao longo de sua jornada política. Além disso, a casa já foi reformada e é um pouco diferente se comparada a época em que Mandela viveu lá. A exposição temporária sobre o Mandela no Apartheid Museum tem muito mais informação, fotos e vídeos da época, e vale muito mais a pena.
Nossos 20 dias na estrada foram corridos, mas posso dizer que valeram a pena. Muita gente opta por fazer somente a Garden Route, mas continuar na estrada até Johannesburg dá para entender melhor o que é realmente a África do Sul mais de 20 anos após o fim do Apartheid.
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