África

20 dias na estrada: de Cape Town à Johannesburg

Aproveitando nosso tempo na África do Sul, alugamos um carro para conhecer um pouco da costa oeste parando pelas charmosas praias e cidades no caminho. Passamos por 15 cidades, algumas muito bem estruturadas e modernas, e outras mais carentes e parecidas com outros lugares da África que conhecemos.

Nosso top 10 na Cidade do Cabo

Em uma viagem longa como a nossa tem horas em que é necessário escolher um lugar para organizar nossas coisas e planejar as próximas etapas da viagem. A Cidade do Cabo não nos decepcionou. Uma cidade que oferece diversas opções de entretenimento, boa comida, população simpática, além de uma paisagem belíssima que mistura montanhas e mar.

Ficamos 1 mês na cidade, de dezembro à janeiro.  A cidade estava repleta de atividades, era normal sair para caminhar e encontrar alguma coisa pelo caminho: crianças dançando, jovens fazendo pequenas apresentações, feirinhas com artesanato local, pequenas exposições temporárias, festival gastronômico, coral fazendo apresentação na rua, bandas locais vendendo seus CDs em pequenos shows ao vivo etc.

O Mau tinha vindo para Cidade do Cabo em 2006 e, segundo ele, a cidade mudou muito. Para melhor! Foi bacana perceber que os investimentos com a Copa do Mundo em 2010 trouxeram muitos avanços para cidade e, como consequência, o aumento do turismo. Uma cidade que tem a agitação de grandes centros urbanos, a tranquilidade de cidades pequenas, a beleza do mar e, de quebra, montanhas exóticas.

Já que tínhamos bastante tempo, nós optamos por reservar 4 lugares diferentes para ficar hospedados durante esse período. Foi uma ótima ideia para conhecer o dia-a-dia de diferentes bairros da cidade. Além disso, conseguimos algumas promoções no preço da diária, principalmente nos dias anteriores ao Natal e posteriores ao Ano Novo.

Além de correr atrás de vistos para nossos próximos destinos e organizar nosso itinerário para 2015, também deu tempo de aproveitar as atrações da cidade. Há muitas coisas para fazer na Cidade do Cabo. Abaixo, seguem 10 dicas sobre os passeios que fizemos:

1) Castelo da Boa Esperança

Sempre ouvi dizer no Cabo da Boa Esperança, mas nunca tinha ouvido falar no Castelo da Boa Esperança (Casteel de Goede Hoop).  O castelo, na verdade, era um forte construído no século 17 pelos holandeses. Uma região estratégica no meio do caminho entre a Holanda e a Índia. Na época, muitas pessoas morriam por escorbuto, e para prevenir a doença, alimentação saudável era fundamental. O local servia de base para plantação de verduras, legumes e criação de animais. Depois virou um castelo, sendo a estrutura colonial mais antiga da África do Sul. Não é um castelo de ouro e diamantes, mas sim de histórias da Cidade do Cabo e sua localização privilegiada no meio de dois oceanos. Hoje, o local é sede da força militar da cidade.

2) V&A Waterfront

Essa é a parte mais turística da cidade, sempre movimentada e cheia de gente. Tem vários restaurantes e um Shopping Center com diversas lojas de marca e cinema. É também o lugar para fazer passeios de barco, inclusive o passeio para conhecer a Robben Island.

Era o local que nós sabíamos que ia ter sempre algo aberto nos dias de feriado, mesmo porque no centro da cidade tudo fecha cedo. No Natal, as filas na hora do almoço para os restaurantes eram enormes. No Ano Novo, era a “Copacabana” da Cidade do Cabo. Estava lotado. Teve fogos de artificio e um show com palco construído sobre a água.

3) Robben Island

A prisão de Robben Island ficou conhecida por abrigar vários presos políticos na época do Apartheid na África do Sul, entre eles, Nelson Mandela, que ficou na ilha 18 dos seus 27 anos atrás das grades. O passeio é muito legal e interessante, mas duas coisas me chamaram a atenção. A maioria dos guias no local são ex-prisioneiros políticos que hoje contam suas histórias com muito orgulho, mostrando como era a vida na prisão às centenas de turistas que visitam a ilha. Foram os guias mais empolgados e vibrantes que encontramos por aqui. A ilha fica acerca de 45 minutos de barco de Cape Town e o mar é muito agitado. Deu um friozinho na barriga de tanto que balançava. No museu da ilha, vimos que apenas 1 preso que tentou escapar nadando sobreviveu. Ficamos imaginando como ele conseguiu atravessar nadando porque além do mar agitado, é uma região de tubarões.

4) Table Mountain e Lions Head

Para quem gosta de escalar montanhas, são dois passeios imperdíveis na cidade. A Table Mountain leva cerca de 2h30 para subir e a Lions Head pode durar cerca de 1h30. Para nós, o difícil era encarar a subida com o sol de rachar, então optamos por pegar o bondinho para a Table Mountain. A fila pode chegar até 4 horas, principalmente em alta temporada; então a dica é comprar o ingresso pela internet e chegar bem cedo. Chegamos 8h30 e ainda pegamos uma filinha de 30 minutos para subir, o que foi ótimo perto dos padrões do período. A vista é de tirar o fôlego. Nessa hora deu vontade até de morar em Cape Town; a cidade é linda.

Para subir a Lions Head não tem bondinho, é uma atração para os amantes de trilhas e escaladas.

5) Pôr do sol na Signal Hill

A vista do pôr do sol na montanha chamada de Signal Hill é incrível, mas para chegar lá é preciso chegar cedo porque senão corre o risco de ficar travado no meio da montanha. Para subir é possível ir de carro, a pé (uma certa caminhadinha) ou utilizar o ônibus do City Sightseeing, que tem um passeio noturno.  O pessoal costuma levar sua cesta de piquenique para chegar cedo e curtir a vista. Nós chegamos super em cima da hora, mas deu tempo de curtir a paisagem. De noite, a vista ficou incrível também com a cidade toda iluminada. O problema é que o pessoal saiu parando o carro em qualquer lugar já que tinha muita gente e não cabia mais no estacionamento. Para conseguir destravar o transito foi necessária a ajuda de uns 5 voluntários que abandonaram seus carros para organizar o trânsito.

6) Two Oceans Aquário

Com mais de 300 criaturas marinhas, o aquário de Cape Town vale a visita. Aberto em 1995, atualmente tem planos de expansão para novas atrações a partir de 2015. Não é daqueles aquários enormes, mas também não é pequenininho. Foi muito divertido conhecê-lo. Fomos em um domingo a tarde e pudemos acompanhar a alimentação dos pinguins e dos tubarões, com direito a surpresa de Natal.

7) Company´s Garden (jardins do Parlamento, National Galery e Iziko Museum

Em um sábado de manhã fomos passear pelos jardins que ficam atrás da Catedral de St. George e próximo ao Parlamento, região chamada de Company´s Garden. O dia ensolarado contribuiu para que o passeio ficasse ainda mais gostoso. O lugar é ideal para um piquenique, ou se tiver com preguiça de preparar as coisas, vale o almoço no restaurante dentro do parque arejado pelas sombras das árvores. Atraídos pela exposição de fotografias da National Geographic chamada “50th annual edition of the Wildlife Photographer of the Year Exhibition“ fomos visitar o Iziko South Africa Museum. A exposição de fotos trazia os vencedores de 2014 do prêmio organizado pela National Geographic anualmente, mas o Museu também reservou surpresas muito interessantes. Em seu acervo há fosséis de mais de 700 milhões de anos e ferramentas feitas de pedra usadas por pessoas há 120.000 anos atrás. O museu foi criado em 1825 e se mudou para o prédio atual em 1897. Especialmente as crianças se divertem com o Planetário que tem no museu e também vendo os animais em seu tamanho natural. Era comum escutar um “Uau” da molecada. Nesta região também é possível visitar a National Galery e o Cape Town Holocaust Center.

8) Caminhada por Greenpoint e Sea point

O segundo lugar que ficamos hospedados foi em um hostel em Greenpoint. Um bairro tranquilo e delicioso para relaxar. Fica próximo ao mar, mas a praia nesta região é cheia de rochas e o mar é muito agitado. Não é possível mergulhar, mas é um lugar muito gostoso para fazer caminhadas à beira do mar e tem uma vista linda do pôr do sol. Além disso, tem vários restaurantes gostosos nas redondezas. Nesta região é possível visitar o Estádio de Cape Town, construído para a Copa de 2010.

Durante o feriado, a região fica repleta de gente fazendo piquenique. Mas do que isso, o pessoal arma barraca com cadeiras, mesas, colchão, guarda sol e faz um verdadeiro banquete. Não era só sanduiche; era arroz, feijão, salada e frango. Tudo na grama, mas de frente para o mar. Foi divertido ver a alegria do pessoal, mas ficamos um pouco aflitos ao ver crianças brincando nas pedras próximas ao mar que parecia estar muito sujo além de agitado, apesar dos pais parecerem não estar preocupados.

9) Jantar na LongStreet

Essa badalada rua é famosa pela sua vida noturna com diversas opções de bares, restaurantes e discotecas. Tem opções de comidas para todos os gostos, e também é possível encontrar promoções de cervejas e cocktails na hora do happy hour. A melhor coisa a se fazer é dar uma volta na rua parando para ver os cardápios de cada local e escolher aquele que mais agrada. No artigo “Barganhas para comer bem em Cape Town” destacamos nossos lugares preferidos.

10) Passeio de trem para Simon´s Town

Por apenas U$3 (ida e volta) pegamos o trem e fomos conhecer Simon´s Town, acerca de 1 hora da Cidade do Cabo. Mesmo na primeira classe, nada de luxo, o trem era bem simples. Mas a viagem foi uma ótima surpresa. Nunca tinha visto um trem passar tão perto do mar. Além disso, evita o trânsito que, aos finais de semana principalmente, é terrível.

Simon´s Town é uma pequena cidade que atrai turistas que vão visitar a praia de Boulders, famosa por seus pinguins. Para chegar pertinho dos pinguins é necessário entrar no Parque Nacional (entrada U$6). É possível tirar fotos de dezenas de pinguins que ficam descansando nas pedras à beira do mar e também ter acesso à pequena praia, para quem quiser nadar. Se tiver sorte, pode mergulhar ou tomar sol lado a lado com um pinguim.

Esses foram os passeios que mais gostamos e que em geral tomam mais tempo. Algumas coisas rápidas que fizemos e valem a pena: passear pelo bairro de Bo-kap e tirar foto das casinhas coloridas. Caminhar pelo bairro do District 6 e Woodstock que são bem diferentes do resto da cidade. Passamos um mês na cidade, mas nossa vontade era morar lá por mais um tempinho!

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Zanzibar, um pequeno paraíso africano

O arquipélago de Zanzibar é considerado uma parte semiautônoma da Tanzânia e situada no oceano Índico. O arquipélago é formado por diversas ilhas pequenas e duas grandes: Pemba e Unguja, ilha principal conhecida como Zanzibar, onde situa-se a capital chamada de Zanzibar City.  O nome da ilha é um bom exemplo da influência árabe na costa da África oriental: os árabes chamavam Unguja de “Zanj-Bar”, que significa “costa dos Zanj” ou negros. Como este era um porto muito procurado pelo comércio, principalmente de escravos, o lugar passou a ser conhecido na região por este nome que mantém até hoje.

Antes de seguirmos para as praias mais afastadas da ilha, passamos 2 dias em Stone Town, o centro histórico da cidade. É um lugar peculiar, que mistura em sua arquitetura influências árabes, hindus, africanas e europeias. Esta região da cidade guarda as memórias de quando ainda havia compra e venda de escravos. Foi toda construída com pedras. Tem ruazinhas pequenas e estreitas, com diversas lojas de artesanatos locais e vendedores que adoram negociar. Faz parte da experiência se perder pelas suas vielas, conversar com os locais e conhecer as mesquitas, igrejas e mercados da região.

A religião predominante é mulçumana, apesar de também existirem cristãos e alguns hindus. Mesmo com o calor escaldante, é recomendado respeitar a cultura; as mulheres devem usar saias abaixo do joelho ou calças. Já nas praias, há muitos hotéis em regiões afastadas e a flexibilidade é maior.

Fizemos um passeio bastante popular chamado de Spice Tour, uma visita a plantação de especiarias locais. É possível observar as plantações e forma de cultivo da canela, capim santo, cúrcuma, vanila, cravo, café, noz moscada, entre outras diversas especiarias. No final eles oferecem degustação de frutas locais, e quem quiser pode comprar as especiarias em um pequeno mercado.

Depois, seguimos para o norte da ilha, na praia de Nungwi. É uma região com vários hotéis e centros de mergulho. O mar é bastante tranquilo, ideal para nadar. Não venta muito e a vista do pôr do sol é extraordinária. Há opções de passeios de barco para acompanhar o pôr do sol ainda mais de perto.

Para mergulho ou snorkeling, o melhor lugar é a ilha de Mnemba, uma área de marina protegida que abriga mais de 300 espécies de peixes, golfinhos e tartarugas marinhas. Alugamos um barco para fazer snorkeling perto da ilha e apesar de vermos muitos corais mortos por causa da pesca intensiva, a água transparente no mar turquesa repleto de peixes coloridos valeu a tarde.

Fomos descansar uma semana na praia de Matemwe, na região nordeste da ilha. É uma praia incrível, grande e espaçosa. Há mais vento, o que é bom para aliviar o calor intenso. Ficamos em um hotel boutique muito gostoso chamado Zanzibar House, próximo à um vilarejo. Como a praia era grande, as vezes dava a sensação de que estávamos numa ilha deserta.

Fomos caminhar e conhecer a vila de moradores da região. Logo que chegamos, as crianças já se aproximaram eufóricas para ver o que estava acontecendo. Não são muitos turistas que vão andar na vila de moradores. Nossas máquinas fotográficas despertaram muita curiosidade. Em um primeiro momento, elas tinham “medo” e não queriam tirar foto, mas ficavam encantadas de olhar pelo visor da câmera e descobrir que ali tinha uma imagem que elas reconheciam.

Depois de alguns minutos em que algumas crianças mais curiosas resolveram aparecer nas fotos, todas elas queriam tirar foto para depois ver como apareciam na tela. Faziam caretas, pousavam, mostravam a língua e deitavam no chão. Ficou difícil de administrar a empolgação de tanta criança para ver a sua foto na tela da câmera. Algo tão simples e óbvio para nós e tão diferente e inusitado para eles.  Ficamos ali, eu, o Mau e um casal que estava conosco, tirando foto da criançada e ganhando sorrisos e risadas quando eles olhavam seus retratos. Foi uma tarde bastante divertida.

Nos outros dias em que fomos caminhar na praia sempre aparecia um local para conversar conosco e, diferente da cidade em que todos pedem dinheiro, eles nos pediam uma bola de futebol. Foi mais de uma vez que um morador veio conversar conosco para pedir uma bola de futebol. Todas as tardes, por volta das 17h00, era hora do futebol na praia com a molecada. Eles adoram.  Infelizmente, não estava muito fácil para a gente arrumar uma bola de futebol para eles, mas quem vier para Zanzibar e quiser trazer, vai ser muito bem recebido!

Referências:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Zanzibar
http://whc.unesco.org/en/list/173

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A cratera de Ngorongoro e as peculiaridades da Tanzânia e seu povo

Logo que cruzamos a fronteira e começamos a percorrer as estradas na Tanzânia, já era possível notar diferenças entre os outros países que passamos na África. Fomos até a cidade de Arusha, caminho para chegar na região do Serengeti e visitar a cratera de Ngorongoro.

De frente com os predadores no Serengeti, na Tanzânia

A África, em geral, é conhecida pela riqueza e diversidade de animais que habitam seu continente. Mas, especialmente a região do norte da Tanzânia e sudoeste do Quênia, conhecida como Serengeti (ou Serengueti), abriga a maior migração animal de mamíferos do mundo, um lugar incrível para conhecer as maravilhas do mundo natural.

Conhecendo a realidade do Quênia e da Uganda

Chegamos em Nairobi (Quênia) e fomos recebidos com um trânsito infernal, caraterístico da cidade. Foram 2h30 para chegar no hotel, para um percurso que deveria levar 25 minutos. Mas para quem mora em São Paulo, já estamos habituados e não sofremos tanto.

Nosso hotel ficava em uma região central da cidade bastante movimentada e considerada segura. Mas, mesmo assim, a segurança para entrar no hotel era bastante rígida, com detectores de metal e 2 seguranças armados. Um deles vasculhava todos os carros que chegavam, usando até espelho para ver embaixo do carro.

Resolvemos nem sair do hotel e no dia seguinte partimos para estrada, a caminho de Uganda. A pobreza é visível em toda cidade, mas na estrada é ainda mais severo. Mais da metade da população não tem emprego. O salário mínimo é a cerca de U$80 por mês. As pessoas não largam seu emprego por nada, porque se saírem podem nunca mais entrar no mercado de trabalho.

As estradas são muito movimentadas e o comércio local é intenso. Vimos mulheres e crianças vendendo principalmente batatas, cenouras e outros legumes em todo o percurso. Alguns jovens vendiam coelhos que acabaram de caçar.

Estávamos em um grupo de 10 pessoas e paramos para comprar alguns alimentos destes produtores locais. A ansiedade e ao mesmo tempo a felicidade das mulheres que os vendiam era de chamar a atenção. Todas falando ao mesmo tempo e indicando as melhores batatas que elas tinham. Enquanto nosso guia comprava os alimentos, elas faziam poses para sair em nossas fotos.

Os africanos em geral são muito simpáticos mas também muito carentes de atenção. Era comum ver pessoas acenando para nosso ônibus, como um sinal de boas-vindas. E ficavam ainda mais felizes quando a gente retribuía o cumprimento.  Surpreendeu-me a quantidade de crianças simplesmente sentadas a beira da estrada, olhando o movimento.

Quando chegamos na fronteira entre o Quênia e a Uganda, a fila de caminhões era imensa. Os caminhões chegam a demorar até 2 semanas para cruzar a fronteira! Porque o sistema é lento, totalmente manual, e eles fazem a inspeção em todas as mercadorias. Para nossa sorte, como estávamos em um ônibus de turistas, demorou apenas 2 horas com o tramite normal de passaportes e vistos de entrada no país. Segundo nosso guia, eles confiam nos turistas, então não foi necessário conferir todas as nossas malas e materiais que estavam no ônibus. Para brasileiros, o visto para Uganda pode ser tirado na hora e custa 50 dólares. Deve ser pago em dólares e eles só aceitam notas novas, a partir de 2006.  Tem uma placa alertando, mas não souberam nos explicar o porquê.

Em Uganda é difícil diferenciar os centros das cidades das estradas. As cidades aqui são muito diferentes dos padrões que estamos acostumados. A maioria das ruas são de terra. Tudo é muito espalhado. É um país que vive basicamente da agricultura. Vimos comércio em todo o caminho, com muitas pessoas vendendo alimentos à beira da estrada. 

Passamos por 4 cidades: Kampala, Jinja, Kabale e Bushenyi, e todas elas são muito parecidas. As condições são precárias, com pessoas andando descalças nas ruas de terra, lixos espalhados no chão, falta de saneamento básico, entre outros problemas. Grande parte dos banheiros que passamos não havia água; alguns nem tinham descarga, apenas um buraco no chão abaixo do vaso sanitário. Em uma grande loja de artesanatos locais, bem bonita e organizada, me chamou a atenção uma placa no banheiro em inglês e na língua local, dizendo “Lamentamos informar que não há água disponível frequentemente, porque é cara e temos que ir longe para buscá-la”.

Quando paramos para abastecer no caminho de Kampala, uma cena me chamou a atenção. Uma família: mãe, pai e 2 crianças, estavam caçando formigas e colocando em jarras para come-las. Fez-me pensar em quantas vezes nós desperdiçamos comida, deixamos um restinho no prato, na panela, ou esquecemos na geladeira. Enquanto isso, há famílias se alimentando com formigas! Tem coisas muito erradas neste mundo. Peguei um saco de pão e creme de amendoim que tínhamos no ônibus e entreguei para a mãe; o sorriso dela fez eu ganhar meu dia.

Outro problema comum no país são as quedas de energia muito frequentes. Ficamos hospedados em campings e ao longo do dia era comum a falta de energia por algumas horas. Chove muito em Uganda e isso também contribui para causar falhas no abastecimento de energia, principalmente durante tempestades.

Mas mesmo em meio a tanta carência, as pessoas são simpáticas e se ajudam entre si. Quando paramos por uma noite em Kalinzu Forest, uma reserva repleta de chimpanzés e próxima a uma grande plantação de chá na região, as crianças da escola local vieram fazer uma apresentação de dança para nosso grupo. Não havia energia no local, estava chovendo e já era tarde. Mas para não decepcionar as crianças, os moradores da reserva conseguiram uma bateria para acender pequenas lâmpadas dentro de uma sala no Centro de Preservação.  

As crianças estavam super ansiosas se arrumando com seus trajes especiais enquanto estávamos jantando. Para eles, é um grande orgulho mostrar sua cultura e ficam muito felizes com a presença de estrangeiros na região. Adoram tirar fotos, e no final da dança, nos surpreenderam com uma pequena peça teatral. Um texto simples, mas falado em inglês sobre a importância da preservação da floresta e principalmente dos chimpanzés que nela habitam. Fiquei emocionada ao ver os sorrisos estampados nos rostos de cada criança mesmo com a sala um pouco escura; a energia que eles passavam era contagiante. No final, todos nós dançamos com eles.

Apesar de ver cenas muito tristes pelo caminho, o que mais me chamou a atenção foi o senso de comunidade entre as pessoas. Como as condições são precárias para todos, eles se ajudam a superar os desafios do dia a dia, principalmente nas áreas mais afastadas dos centros urbanos. Provavelmente esse comportamento tenha sua origem na cultura tribal, muito presente em toda a África. As pessoas respeitam muito suas tribos e a origem de sua família. Eles são bem menos egoístas do que as pessoas que vivem nas grandes metrópoles pelo mundo afora, que não se preocupam com seu lixo porque tem um caminhão para recolhe-lo, que  utilizam água em abundância como se fosse um recurso ilimitado, que desperdiçam comida porque não estão com fome, que destroem árvores para ter uma vista melhor de sua casa. É, temos muito a aprender com os africanos.

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Passeio por Fez no Marrocos

Conhecer Fez foi uma grata surpresa. Antes de irmos para a cidade, ouvimos os mais diferentes comentários; alguns diziam que era perigoso, outros que era muito ruim, ou que era muito formal e mais tradicional.

Depois de quase 8 horas de viagem saindo de Marrakech, chegamos na grande Fez. A cidade tem aproximadamente 1,4 milhões de habitantes. Sua Mesquita de Qarawiyyin, ou Karueein, é a maior e a mais velha mesquita da África. A cidade foi fundada em 808 d.C. por Idrís II, tendo sido a capital de Marrocos durante vários períodos. É a cidade onde esta localizada a Universidade de Karueein, a mais antiga universidade do mundo ainda em funcionamento, criada nos primórdios da cidade (859).

A medina principal, Fez El-Bali, foi considerada patrimônio da Humanidade pela Unesco em 1981.

Não tivemos muitos problemas para encontrar a medina e procurar o riad, como dizem aqui, (pousada/pensão) que ficaríamos hospedados. Encontramos pessoas mais simpáticas que não estavam nos ajudando somente por dinheiro, como acontecia em Marrakech.

Contratamos um guia oficial para conhecer a medina, o que foi uma ótima escolha para não nos perdemos lá dentro. Também não é caro; o passeio com o guia por 3 horas custou 20 euros para um grupo com 4 pessoas.

Fez nos pareceu uma cidade mais autêntica em relação a cultura e aos costumes marroquinos. Talvez por ter menos turistas e não ser tão caótica como Marrakech, pudemos observar melhor o modo de vida dos mulçumanos.

O dia começa cedo para as crianças que vão para escola, mas não para o comércio que abre suas portas mais tarde e fica aberto até tarde da noite.

O passeio pelas ruas da medina as vezes pode ser um pouco tenebroso, pois as ruas são muito estreitas, as vezes um pouco escuras, tem lixo jogado nos becos e muito movimento de pessoas, burros e jegues. Mas na verdade é tudo muito seguro. A maioria das ruas tem câmeras, e há policiais disfarçados em toda a medina para garantir a segurança dos turistas.

A medina de Fez tem 14 portas e é dividida em grandes 2 bairros. Assim como em outras cidades, o comércio é a principal característica da medina. Passamos pelo mercado com frutas, verduras e legumes diversos, misturado com os açougues vendendo frangos vivos, cabeça de bode, carne de pombo, peixe e outras iguarias locais. O exotismo toma conta do cenário com uma variedade de diferentes artigos: roupas, cerâmicas, tapeçarias, artesanato e alimentação. Quase lado a lado, podem conviver um pedaço enorme de carne de carneiro pendurada em ganchos com belas e delicadas pashminas coloridas.

O problema é que o mercado não parece ser muito higiênico e o cheiro também é forte. No meio de tudo isso ainda passam burros e jegues a todo momento transportando mercadorias.

Nas pequenas lojas, é possível encontrar vestidos marroquinos dos mais variados modelos, lenços das mais variadas cores, e também roupas com estilo mais ocidental. Passamos por uma região com diversas lojas de artigos em cobre e prata. Principalmente bacias de cobre e chaleiras de prata. Mas diferente de Marrakech, não há um assédio aos turistas para pressão por vender algo a todo momento. A negociação flui de forma um pouco mais amistosa.

A população que vive na medina é bastante carente; há muitas pessoas de idade pedindo dinheiro. Chega a ser triste ver as condições de algumas casas lá dentro, somada a falta de higiene em muitos lugares.

No entanto, eles parecem gostar do movimento de turistas caminhando por todos os lados. Cruzamos até com crianças que nos cumprimentavam em 3 línguas diferentes para descobrir de onde erámos.

O que me deixou extremamente abalada foi quando passamos pelo curtume. Principalmente ao ver aquelas pessoas em uma situação degradante e totalmente insalubre trabalhando duro. O cheiro do local era insuportável. E enquanto aqueles homens trabalhavam embaixo de um sol escaldante, os donos das lojas de couro ao redor entretiam os turistas, oferecendo chá e vendendo seus artigos com altos preços em euro. Com certeza, estes trabalhadores não recebem nem 1/3 do que ganham os donos das lojas de couro e ainda servem de vitrine para expor a maneira como o couro é tirado. Tem algo muito errado nessa história toda. Acho que vale pensar duas vezes antes de comprar um artigo de couro de animal para alimentar essa indústria.

Conhecemos a Mesquita de Karaouine, fundada no ano de 859, e também a universidade de mesmo nome, segundo o guia, a mais antiga do mundo. O passeio foi pelo lado de fora, olhando pelas grandes portas que ficam abertas em alguns horários determinados, já que a entrada é vetada para não-mulçumanos. Terminamos o dia com um passeio muito agradável pelo jardim Jnan Sbil, aberto pela princesa Lalla Hasnae no ano passado após vários anos de restauração. Um lugar para relaxar e muito gostoso para acompanhar o pôr do sol.

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