Sob regime militar com um dos governos mais corruptos do mundo, Mianmar tem lugares incríveis para serem visitados, além de um povo simpático, para lá de hospitaleiro.
Mesmo sendo próximo a destinos bastante populares no sudeste da Ásia, como Tailândia, Laos e Camboja, Mianmar não é um país que muita gente costuma colocar em seu roteiro.
Até 1989, o país chamava-se Birmânia ou Burma (nome oficial), passando a ser chamado de Mianmar, com o objetivo de eliminar os vestígios do colonialismo europeu. O país vive sob regime de ditadura militar há quatro décadas e por muito tempo ficou isolado dos demais países do sudeste asiático, abrindo suas portas para o turismo apenas em 2008.
Muita gente tem receio de ir para Mianmar, por conta das perseguições e repressões do governo, mas não tivemos nenhum problema quanto a isso. O que vimos foi uma população pobre e carente, enquanto o governo gasta dinheiro com templos luxuosos, estátuas e pagodas em ouro. Uma contradição que os brasileiros conhecem muito bem.
Há alguns anos, diziam que o país era inseguro, difícil de circular, não tinha como trocar dinheiro em caixas eletrônicos, a internet era bloqueada, entre outras coisas. Mas posso afirmar que muita coisa mudou. Afinal, o governo tem percebido que o turismo pode ser uma ótima forma de levantar recursos.
Na maioria das cidades que visitamos, você tem que pagar uma taxa de turismo assim que chega na rodoviária. E não importa se seu ônibus chega às 3:30 da manhã, sempre haverá alguém para cobrá-la. No começo, achamos muito estranho aparecer um homem e dizer que deveríamos pagar 20 dólares para circular na cidade. Depois, vimos que era algo comum com todos os estrangeiros.
Eles te dão um ticket que você pode usar por 5 dias na cidade e apresentá-lo para entrar nos pontos turísticos. As taxas variam de US$ 10 à 20 dólares por pessoa, dependendo da cidade. E eles ainda fazem uma cotação que vale mais a pena pagar em dólar do que na moeda local (Kyat). Além disso, em qualquer lugar do país, só são aceitas notas de dólares novas e em perfeito estado, não sendo aceitas notas com rasuras, rasgadas ou simplesmente velhas. Não me perguntem os porquês por trás de tudo isso. Deixo par cada um tirar suas conclusões.
No guia Lonely Planet sobre o Myanmar, tem uma tabela guia sobre o destino do dinheiro do turismo. O governo fica com porcentagens maiores de gastos em hotéis e pacotes mais luxuosos, além das taxas de visitação em cada cidade. Optamos por ficar em hotéis mais simples, ir em restaurantes locais administrados diretamente por famílias locais e utilizar guias locais, para tentar garantir que a maior parte do dinheiro não ficasse com o governo.
Outra coisa interessante é que o país tem mudado muito em pouco tempo. Li muitos artigos da internet com informações já desatualizadas.
E, por trás de tudo isso, o país esconde surpresas encantadoras. Além de lugares incríveis, o povo de Mianmar faz com que a viagem pelo país seja uma experiência única. Em Mianmar, encontramos um lugar com uma cultura mais autêntica, uma “Ásia mais genuína” e com menos influências ocidentais.
Desde a forma de se vestir até os hábitos do dia a dia, são muitos os detalhes que podem ser observados. Homens e mulheres usam o chamado longyi, um tipo de saia longa tradicional daqui. Para os homens, geralmente encontrada em cores mais escuras e estampas mais sóbrias, e, para as mulheres, variam desde um simples tecido amarrado na cintura até modelos com detalhes floridos ou bordados. Para se proteger do sol, mulheres e crianças andam nas ruas com o rosto pintado de amarelo. Na verdade, é uma pasta branca a base de sândalo, chamada tanaka.
O povo de Mianmar é muito hospitaleiro e é comum cumprimentar as pessoas nas ruas e receber um grande sorriso. As crianças são muito simpáticas e curiosas, acenavam de longe quando nos viam. A maioria das pessoas não fala inglês, mas entende algumas palavras e sabem se comunicar. Não tivemos problemas quanto a isso.
Outro lado positivo foi o passeio nos mercados. Diferente dos outros países vizinhos, quando queriam vender alguma coisa, não havia insistência ou pressão para compra. Um simples “obrigado” era suficiente, e ainda era retribuído com um sorriso.
As cidades turísticas mais populares e também com melhor estrutura para receber os estrangeiros são: Yangon, Bagan, Inle Lake e Mandalay. Em outros locais, pode ser mais complicado o deslocamento e é preciso também tomar cuidado com áreas de restrição do governo. Ainda há locais com pequenos conflitos que não são seguros para estrangeiros.
Em Yangon, a Shwedagon Pagoda impressiona pelo seu brilho e riqueza de detalhes. São tantos Buddhas que eu até fiquei perdida. Cada imagem do Buddha tem um significado e está relacionado ao calendário birmanês. A Pagoda foi inicialmente construída no ano 600 AC e desde essa época até o século 14 foi mantida por 32 reis da Dinastia de Okkalapa. Acredita-se que seja a pagoda mais antiga do mundo. Depois de 1372, outros reis foram aumentando a altura do domo principal, que hoje tem 99 metros de altura, e construindo pequenos templos, ou shrines, ao redor.
Bagan, chamada antigamente de Pagan, foi capital de vários reinos em Mianmar. São mais de 2.000 templos ou pagodas, sendo que a maioria foi construída entre os séculos XI e XIII, durante o tempo em que Bagan era a capital do Primeiro Império birmanês. Durante esse período, a cidade também se tornou um centro cosmopolita de estudos budistas, atraindo monges e estudantes da Índia, Sri Lanka e Tailândia.
Como são muitos templos, a melhor coisa por lá é alugar uma bicicleta elétrica e se perder entre eles. É possível entrar na maioria dos templos, que têm estátuas do Buddha de diferentes tamanhos. Dá para sentir a sensação de ser um explorador de verdade. O lugar é exótico e incrível. Só fiquei triste ao descobrir que não pode ser considerado um patrimônio cultural da humanidade pela UNESCO, porque o governo utilizou técnicas de restauração não aprovadas, com materiais que não existiam na época de construção dos templos.
Inle Lake fica no distrito de Nyaung Shwe. Com diversos vilarejos construídos sob a água, é um excelente lugar para observar um modo de vida muito raro nos dias de hoje. O que chamou a nossa atenção foram os pescadores e seu jeito, ao mesmo tempo original e tradicional, de pescar. Parece um balé, se é que assim posso o descrever. O rio não é muito fundo, mas a água é coberta por juncos e plantas, por isso, para facilitar a visualização dos peixes e ter as mãos livres para jogar a rede, eles equilibram uma perna na popa do barco e a outra ao redor do remo. Com uma habilidade tremenda nos pés, fazem movimentos circulares para guiar o barco e encontrar os peixes. Haja equilíbrio. É muito legal de ser observado.
Nosso passeio de barco fez paradas em várias fábricas artesanais de tecidos, joias, artigos em madeira, entre outras, mas o mais interessante foi conhecer um autêntico mercado local e não aqueles mercados feitos mais para turistas, como vimos em outros lugares.
Em Mandalay, nossa última parada em Mianmar, ao invés de visitar mais templos, pagodas e monastérios, resolvemos simplesmente explorar cidade, conversar com as pessoas e observar o modo de vida local. O povo de Mianmar é muito simples, mas, muito acolhedor.
A pobreza é visível na maioria dos lugares. O salário mínimo (recém estabelecido pelo governo) é de apenas US$ 3 por dia. Mas isso não inibe a simpatia desse povo curioso em conversar com os estrangeiros que visitam seu país.
Em novembro deste ano, haverá eleições no país e muitas pessoas estão confiantes de que uma mudança positiva poderá ocorrer, pois agências da ONU estão se programando para fiscalizar as eleições e garantir que ela seja conduzida de forma justa. Por outro lado, acompanhando as notícias locais, vimos que o governo vem aumentando as exigências para que os cidadãos possam ter direito ao voto durante as eleições, criando empecilhos para muitos não poderem votar.
É, infelizmente, sabemos que muitas coisas não são tão simples quanto parecem. Mas posso afirmar que mesmo com todas essas particularidades do governo, Mianmar é um país que merece ser visitado. Vale pela sua autenticidade e carinho de seu povo!
Algumas dicas:
Como conseguir o visto?
Fizemos pela internet e foi muito fácil. Basta preencher o formulário no site abaixo e pagar a taxa com o cartão de crédito. Em 2 dias recebemos a carta de confirmação a ser apresentada na entrada do país.
http://evisa.moip.gov.mm/
Transporte dentro do país
Optamos por fazer todo nosso roteiro de ônibus noturno. Não tenho do que reclamar, os ônibus são ótimos e confortáveis. Chegávamos nas cidades logo cedo, entre 4 e 5 da manhã, mas como não era alta temporada, conseguimos fazer check in neste horário em todos os hotéis que reservamos. Há também opções de ônibus durante o dia para quem não gosta de viajar a noite. A melhor companhia de ônibus chama JJExpress, e foi o melhor ônibus que pegamos em toda nossa viagem até agora.
É possível também viajar de trem, barco e avião. O trem é bastante simples e demorado. As passagens de avião não são muito baratas. E, quanto ao barco, não conseguimos muitas informações.
Dinheiro
A maioria dos lugares aceita dólares (notas novas). Em hotéis, principalmente, eles fazem uma cotação que não vale a pena pagar na moeda local. No entanto, é bom ter um pouco de Kyats para comida e gastos menores.
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