As aventuras e os mistérios das Ilhas Salomão
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As aventuras e os mistérios das Ilhas Salomão

Resolvemos ir para as Ilhas Salomão simplesmente porque nunca tínhamos ouvimos falar de ninguém que tinha ido para lá. Só isso já despertou nosso sentimento de aventura. Mesmo em países próximos, como Austrália e Nova Zelândia, quando perguntávamos se alguém conhecia o país, a resposta era sempre negativa. Mas porque será que ninguém vai passar férias nas Ilhas Salomão?

A resposta é simples: o país faz parte de algumas listas de “lugares não recomendáveis para se visitar”. Porque? Como se não bastasse ser o palco de grandes massacres durante a Segunda Guerra Mundial, o país enfrentou um turbulento período de guerra civil entre suas tribos.

Em 2003, o governo das Ilhas Salomão lançou um pedido oficial de ajuda à comunidade internacional, pois a situação já havia saído de seu controle. Um contingente de segurança internacional de 2.200 policiais e militares, liderado pela Austrália e Nova Zelândia, e integrando representantes de outras 20 nações do Pacífico, veio ao país para ajudar a reestabelecer a paz. Desde então, a ONU estabeleceu uma de suas bases no país visando trabalhar as questões sociais e de diretos humanos com a população.

Hoje não há conflitos, apenas as consequências deixadas por eles. O país é bastante despreparado para o turismo e está descobrindo somente agora que isso pode ser importante para sua economia. As Ilhas Salomão recebem apenas 25.000 visitantes por ano. A estrutura hoteleira é básica e cobra preços altos. Faltam opções de transportes para se deslocar entre uma ilha e outra. O meio mais fácil de chegar em algumas ilhas acaba sendo o avião, cujas as passagens chegam a custar US$ 400 o trecho.

Mas, para aqueles que gostam de aventura e lugares inexplorados, as Ilhas Salamão podem ser um destino para lá de interessante, principalmente por estas cicatrizes históricas do país.

As ilhas Salomão compreendem um arquipélago de 922 ilhas, sendo 147 inabitadas. O país abrigava tribos de canibais e ficou isolado por muitos anos. Foi somente no século XVI que os europeus vieram para as Ilhas Salomão. O explorador espanhol Álvaro de Mendana fez seu primeiro contato em 1568. Quando descobriu ouro em Guadalcanal, pensou ter encontrado a fonte da riqueza do Rei Salomão, personagem bíblico, e assim deu o nome ao local de Ilhas de Salomão.

O país foi colônia britânica em 1893 e, assim, permaneceu até 1978, quando conquistou sua independência. Alguns dos mais violentos combates na II Guerra Mundial ocorreram em suas ilhas. É impossível vir para cá sem mergulhar na história da Guerra. Mergulhar, literalmente! O mar daqui é repleto de navios e aviões bombardeados, que estão submersos e repletos de peixes e corais.

Na praia de Bonegi, em Guadalcanal, há poucos metros da areia, apenas com o snorkel pudemos ver de pertinho um navio japonês afundado. Sabe aquela sensação de explorador que a gente só vê nos filmes? Foi muito legal. Só faltou ter um tesouro escondido.

Honiara, na ilha de Guadalcanal, é a capital do país. Uma cidade movimentada e, também, palco de muitos conflitos armados. A maioria dos passeios mais turísticos estão relacionados à Segunda Guerra Mundial. Passamos alguns dias na cidade, mas não foi nosso lugar preferido, pois as pequenas ilhas ao redor guardam muito mais encantos e mistérios a serem explorados.

A melhor coisa de viajar para países que ninguém vai é que tudo que você faz vira uma aventura. Passamos alguns dias na rústica e inexplorada ilha de Savo, um daqueles lugares que a gente só está acostumado a ver em filmes. Segundo os locais, a ilha é protegida por um gigante, que vive no meio das montanhas, sendo que suas pegadas já foram vistas em vários lugares. Além disso, segundo os moradores, sereias vem para a ilha no final de cada ano, e passam a madrugada sentada nas pedras à beira do mar.

Não vimos sereias ou gigantes, mas vimos muitos golfinhos. Eram dezenas de golfinhos pulando, nadando junto com nosso barco e até dando piruetas para a gente. Pode não ter sido surreal, mas foi fantástico. Eram muitos e estavam por todos os lados. E, para os corajosos, os locais desenvolveram uma forma única para nadar com os golfinhos. Eles colocam uma corda ao lado do barco com uma barra para se segurar, você coloca a cabeça na água com o snorkel, enquanto é puxado pelo barco para nadar ao lado dos golfinhos.

Fizemos, também, uma trilha para chegar na cratera do vulcão Voha, “inativo” desde o século XIX. Era parecido com o que fizemos na Nova Zelândia; a diferença é que aqui estávamos dentro do vulcão. Na Nova Zelândia, a gente viu tudo isso de longe, pois haviam as placas de “perigo” e “afaste-se”, porém, aqui, a trilha passava exatamente nesses lugares perigosos. Caminhos estreitos e escorregadios, passando ao lado de um rio com água fervendo (mais de 100 graus celsius em alguns pontos). Não foi uma trilha muito segura, mas valeu a pena.

Diferente de outros países, tudo que fizemos nas Ilhas Salomão tinha uma dose extra de emoção. Claro que é preciso tomar cuidado e ter sensibilidade para entender os limites de até onde é possível chegar com segurança. Durante a noite, alguns lugares da cidade podem não ser seguros, portanto, não custa evitar. Além disso, a malária é um problema por aqui e a estrutura dos hospitais é bastante precária.

 Para visitar Tulagi, esperamos o dia em que a principal balsa da cidade iria operar, porque se deslocar em barcos locais não é muito seguro.

A pequena ilha de Tulagi foi a primeira capital do país, quando este pertencia aos ingleses. É triste ver o retrocesso que ocorreu por lá. Nas fotos do passado, a cidade era muito mais organizada do que agora. Hoje em dia, a ilha abriga pequenos vilarejos, tem um pequeno porto com navios abandonados, alguns mercadinhos e dois hotéis.

É uma região muito legal para fazer snorkeling ou mergulho. Além dos corais e peixes exóticos, o fundo do oceano está repleto de restos de navios, aviões, bombas e equipamentos utilizados durante a guerra. Alguns objetos deixados pela guerra podem ser encontrados facilmente em uma simples caminhada pela praia ao redor da ilha.

Aproximadamente 80% da população vive da agricultura de subsistência em pequenas vilas, afastadas dos grandes centros. Tulagi é um perfeito exemplo deste modo de vida. Não há pensamento de longo prazo; eles apenas vivem dia após dia sem se preocupar com o amanhã. Saem de manhã para pescar sua comida para o jantar.

Lá, encontramos um povo mais simpático e curioso por saber de onde éramos e o que fazíamos aqui. Como disse, eles não estão acostumados a receber turistas em seu país. A maioria da população aqui adora o Brasil e idolatra nosso futebol. Sempre que falámos que éramos brasileiros, eles abriam um sorriso e ficavam felizes por nos conhecer. Perguntaram se erámos amigos do Neymar!

Um fato muito curioso é que, aqui, cerca de 10% da população de pele negra tem cabelo naturalmente loiro. Alguns diziam ser por causa do sol e da dieta rica em peixe, mas um pesquisador da Universidade de Stanford, nos EUA, descobriu que a causa é apenas uma variante genética diferente da que causa a mesma característica nos europeus. Cada vez mais a gente descobre como este mundo é surpreendente.

Mesmo com todos os desafios de se viajar em um país que não está preparado para o turismo, visitar as Ilhas Salomão foi como comprar um sapato novo. No começo, você não fica muito confortável, mas depois vai se acostumando. Se tivéssemos mais tempo, daria para arriscar ir para as ilhas mais distantes e descobrir um pouco mais dos mistérios que se escondem por estas ilhas inexploradas. Fica a dica para quem quiser um dia se aventurar por aqui!

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