Índia: Ônibus, trem, avião, ou será que dá para ir à pé?!
Close

Índia: Ônibus, trem, avião, ou será que dá para ir à pé?!

Não dá para ir a pé, pois tudo na Índia fica a quilômetros de distância. Quando começamos a montar nosso roteiro no país, listamos várias cidades que gostaríamos de conhecer, mas, depois, vendo onde cada uma se situava e a distância entre elas, a gente teve que selecionar nossas prioridades.

Pode até parecer fácil, porque tem muitas opções de transporte: trem, ônibus, avião, tuk tuk, camelo, elefante etc., mas não é simples assim.

Muita gente que vem visitar a Índia vem com os pacotes já montados e com ônibus fretado. Assim, eu diria que é mais tranquilo viajar pelo país, mas também você se distancia um pouco da realidade em que vivem os indianos.  Para se deslocar de forma tranquila e com orçamento disponível, é mais fácil optar pelo avião. Numa aventura como a nossa, o desafio é se virar e buscar a forma de deslocamento em que as pessoas estão acostumadas no seu país. Nem sempre é tão simples, mas também rende boas histórias para contar.

Começa na compra do bilhete, uma vez que estrangeiros não conseguem comprar pela internet. Até vimos alguns sites falando que aceitavam cartão internacional, mas nós não conseguimos comprar, mesmo tendo um número de telefone local. Para o trem, a maioria das estações tem um guichê para estrangeiros, e também uma cota de bilhetes específica para turistas, mas, dependendo do trajeto, se esgota com facilidade.

Dizem que a primeira vez a gente nunca esquece, não é? Nosso primeiro desafio era chegar de Mumbai à Aurangabad, que fica a 8 horas de distância por estrada. Nessa primeira vez optamos pelo ônibus noturno. Foi a primeira vez que eu vi um ônibus que, ao invés de cadeiras, tinha camas. E, ainda, camas de casal e de solteiro em formato de beliches pelo corredor. Ofereciam um cobertor e tinha cortinas para não ficar bisbilhotando a cama dos outros. Não vou falar que foi uma noite deliciosa porque balançava bastante (a estrada com buracos não ajudava nem um pouco). Mas não foi tão ruim assim.

Já a primeira experiência de trem pela Índia, eu diria que foi pra lá de inesquecível. Nós estávamos na cidade de Aurangabad e a forma mais barata e relativamente fácil de se chegar ao norte do país era de trem. Só que eram 19 horas de trem e os bilhetes já estavam todos esgotados, inclusive a cota para estrangeiros. A única solução foi comprar o bilhete de emergência, vendido somente 24 horas antes do embarque (chama-se Trakkal e você precisa chegar cedo na fila, porque esses bilhetes também se esgotam rapidinho).

Éramos os primeiros da fila de estrangeiros e conseguimos comprar os bilhetes sem grandes problemas. No começo, nos pareceu fácil, até entrarmos no trem. Sabe aqueles trens com gente saindo para fora pelas portas? Sim. Mas a gente comprou a classe Sleeper (com camas), então, teoricamente estaríamos salvos. #sóquenão. Ok, pode se dizer que tinham camas, dependendo do que se entende por camas. Vamos dizer, um espaço para deitar (esquece lençol, travesseiro, cobertor, ok?) mas sem espaço para guardar as malas. Ou seja, sua mala virava seu travesseiro. O problema era que os nossos “travesseiros” ocupavam metade da singela cama.

Além disso, as camas eram desmontáveis, sendo que durante o dia viraram assento para 6 pessoas, e a noite, estas 6 pessoas tinham que se ajeitar em dois beliches triplos. Isso em cada compartimento. E pode apostar que não tinha nenhuma cama vazia.

Muita gente passando pelos vagões, com vendedores falando a cada 5 minutos: água, chá, café, fruta, marmita completa, sorvete, joguinhos para crianças, enfim, tinha de tudo. Já que estávamos lá, fomos explorar: erámos os únicos turistas do vagão. Depois das 4 primeiras horas, o Mau já estava fazendo amizade com uma família Sikh e dando boas risadas com os homens do compartimento do lado, ensinando palavras em português. A Anna, nossa amiga espanhola que estava viajando pela Índia com a gente, mergulhou no livro que estava lendo. E eu, além de escrever, fiquei observando o comportamento das pessoas, mas só isso já rende outro artigo.

No meio da viagem, uma das correntes que seguravam a beliche caiu e bateu na testa de uma senhora na nossa cabine. Começou a sangrar muito e foi um grande alvoroço. Era uma família com 7 adultos e 3 crianças viajando juntos no mesmo compartimento que a gente. Todos tentando ajudar a senhora dando vários remédios, comprimidos e tentando fazer o sangue parar de sair. Ninguém parecia entender nada, só sabiam que tinham que fazer alguma coisa. Eles deram tanto remédio que ela foi dormindo o resto da viagem toda.

Durante a noite é preciso ficar atento com as malas e mochilas, pois como o trem para em algumas estações, há movimentação de pessoas e sua mala pode “sair andando sozinha”. O Mau acordou no meio da noite e pegou um menino olhando para minha mala, que depois se assustou e saiu andando. Mas, tirando isso, a simpatia das pessoas no trem nos surpreendeu, com todos sorrindo para gente e ajudando com as malas e dando informações sobre a estação que deveríamos descer. Olha, se tivesse uma universidade para viajantes, já teríamos passado de ano com louvor depois dessa.

Mas, depois dessa viagem, compreendemos melhor como andar de trem pela Índia. A segunda, terceira e quarta vez foram mais tranquilas. Ou talvez a gente estava mais acostumado porque, sinceramente, tranquilo não é! Os trens têm muitas opções de classes. Trens noturnos tem sempre a opção de camas. As classes com ar condicionado são as melhores e recomendo para quem vai viajar pela primeira vez na Índia. A única coisa é que precisa comprar com antecedência. Os indianos viajam muito de trem e as vezes é difícil encontrar bons lugares.

Para ajudar os próximos viajantes, seguem algumas dicas que valem a pena tanto para os trens, quanto para os ônibus:

  • Procure as opções com ar condicionado, são os melhores lugares.
  • Confira o horário de saída e chegada. Há trens e ônibus em que um percurso de 8 horas pode demorar até 17 horas, dependendo da velocidade e quantidade de paradas.
  • Compre os bilhetes com antecedência. Procure os guichês exclusivos para turistas ou através de agências de viagem ou hotéis.
  • Cuidado com o troco na hora de comprar o bilhete. Tem gente que se aproveita dos turistas que não entendem direito como funciona cada classe e cobram mais do que deveriam. Teve um cara que não quis dar o troco para gente na cara dura. A gente pedia e ele falava que era a gorjeta dele!
  • A maioria dos hotéis podem reservam as passagens tanto de trem quanto de ônibus. Pergunte sobre a comissão, para garantir que seja um preço justo.
  • Não confie nas pessoas que vem no meio da rua oferecer passagens.
  • Leve seu lanchinho, vai ser mais saudável do que as comidas vendidas lá dentro. Sem falar das condições higiênicas que não são das melhores.
  • E por último: converse com as pessoas ao redor. Elas adoram e são muito simpáticas! Com certeza vai descobrir algo que vai deixar sua viagem ainda mais interessante.

Acompanhe o Histórias pelo Mundo também pelo:
Facebook:
https://www.facebook.com/historiaspmundo
Instagram:
Historiaspelomundo

Loading...
Loading...