Ficamos hospedados em uma casa bastante confortável, porém no meio do labirinto que rodeia a praça principal da cidade.
São ruas estreitas repletas de lojinhas, muitas pessoas caminhando junto com bicicletas e motocicletas. É preciso tomar cuidado e prestar atenção nas buzinas porque eles passam a todo vapor como se estivessem numa rodovia.
A localização é boa porque fica perto dos principais pontos turísticos da cidade, mas também diria que é o olho do furacão da caótica Marrakech.
Na praça Jemaa el fna é possível encontrar de tudo. Os restaurantes e cafés se misturam com as barraquinhas de rua, que servem carne, peixe, frango, carneiro, pombo, couscous vegetariano, e o tradicional tajine (legumes ou diversos tipos de carne cozidos por muito tempo com legumes, servida numa tigela em formato de triangulo e feita de barro). Há também diversas barracas vendendo suco de laranja por US$0,50, mas nos recomendaram não tomar pois poderia dar “dor de barriga”. O engraçado era a forma que eles tentavam te convencer a experimentar determinado restaurante ou café. Falavam: “Pode entrar que garantimos que não dá diarreia!”.
Tudo era motivo para pedir dinheiro aos turistas, e isso chega a ser bastante desconfortável. Na praça vimos macaquinhos presos em coleiras, para que fossem colocados no ombro dos turistas para tirar foto. Tem aquelas cobras venenosas “hipnotizadas” ao som da flauta. Crianças pedindo dinheiro a todo momento. Pequenos shows de malabarismo ou acrobacias bem simples na frente dos cafés. E, ainda, se tirar foto de alguma dessas coisas, mesmo que de longe, alguém virá rapidinho te pedir um trocado e, se não der, eles ficam bravos e falam palavrões em árabe.
A sensação que me deu foi de uma grande competição por dinheiro, seja nestas situações acima ou na hora de comprar algo. Nada tem o preço marcado, e quando você pergunta alguma coisa, é como se demonstrasse interesse para entrar no jogo favorito dos marroquinos: a negociação. Isso pode demorar as vezes 20, 30 ou até 40 minutos, mas eles não gostam nenhum um pouco de perder esse jogo. Se você perguntou o preço porque realmente gostou de algo, ótimo! Pode conseguir um belo desconto durante a negociação. Mas se você só queria ter uma ideia do valor, é um pouco chato porque eles farão de tudo para você comprar. Um apelo ao consumo meio desesperado. Ainda não sei se a principal motivação deles é só o dinheiro ou a vontade de ganhar o jogo da negociação.
Nós paramos numa loja de tapetes e queríamos saber o preço por curiosidade, pois não temos como carregar um tapete (“óbvio”). O papo com o vendedor demorou 40 minutos; o preço original era 2.500 euros e no final estava chegando em 800 euros com frete incluso para o Brasil e ainda impostos brasileiros pagos. Não conseguíamos ir embora da loja pois o vendedor não queria perder a transação; tive que dizer que não ia comprar porque simplesmente não precisava de um tapete. O vendedor ficou bravo no final e ficou nos encarando na rua quando saímos da loja, como se tivéssemos obrigação de comprar porque perguntamos o preço!
Na praça ou no Souk (mercado principal que também fica nesta região), a competição entre eles para conseguir que os turistas experimentem seus produtos também é grande. Se quiser comprar algo, vale pesquisar antes e ir preparado para entrar no jogo.
É triste ver as crianças sendo educadas desta forma desde pequenas, parando os turistas na praça para vender pequenas bolachas ou simplesmente pedindo moedas. Mas o problema também é cultural e tem raízes históricas. Após a morte de Maomé em 632, com a unificação das tribos árabes, o islamismo expandiu-se em todas as direções. Em poucas décadas, ocupou uma extensão de terra somente comparável ao Império romano em seu auge. Assumiu o papel de agente de ligação comercial entre áreas economicamente importantes do mundo de então: na Europa, África e Ásia. O progresso militar atingido pelos muçulmanos permitiu-lhes isolar a Europa, bloqueando o comércio especialmente por meio do controle do mar Mediterrâneo.
Historicamente, é um povo que sempre viveu as custas do comércio e talvez isso explique essa paixão pelo jogo da negociação. O que acontece é que o mundo mudou e as táticas de venda também mudaram. Além disso, a marca cultural da forma islâmica de viver é muito forte e muitas vezes entra em conflito com os costumes do mundo ocidental. Falando em cultura e considerando o ponto de vista feminino, mulheres devem tomar um pouco mais de cuidado ao visitar Marrakech. Andar com um homem por perto sem dúvida é mais seguro. Nós conhecemos 2 alemãs e 2 holandesas no local em que estávamos hospedados e andávamos em grupo. Eu e as meninas escutamos as cantadas mais estranhas que já tinha ouvido como: “Hey, White chicken!”, “Hello fish and chips”, “what a chicken curry!”. Não vimos nenhuma situação perigosa, mas eles não respeitam muito e falam o que querem. Pensei que fosse uma reação pela forma que as estrangeiras se vestem, mas as alemãs que estavam com a gente compraram vestidos marroquinos e lenços e ainda sim continuaram as cantadas.
No último dia em Marrakech paramos o carro em um estacionamento perto da praça Jemaa el fna, pois no dia seguinte iríamos para Fez. Quando fomos pegar o carro, o pneu estava murcho e logo apareceram 3 caras oferecendo ajuda para trocar o pneu. Tudo para ganhar um dinheirinho. Mas a gente sabe que um pneu não ia murchar sozinho assim sem explicação, né! Então, demos um jeito de levar o carro até um posto de gasolina e encher o pneu que eles tinham esvaziado.
Para concluir, se quiser mergulhar na cultura mulçumana e entender a fundo o modo de vida deles, vale procurar um lugar para se hospedar perto na praça principal em algum Riad nas ruazinhas da redondeza. Se quiser visitar a cidade apenas para conhecer um lugar diferente sem mergulhar a fundo no universo islâmico, vale procurar um hotel na parte mais nova da cidade.
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