Nosso primeiro dia na Índia foi na cidade de Mumbai. Para quem estava vindo de Dubai, acho que não teria um contraste maior.
Logo de cara, o primeiro choque. Pegamos o taxi no aeroporto com nossas malas sendo carregadas em cima do carro, literalmente. Mas isso não foi nada perto do que observamos durante os 45 minutos até chegar no hotel. Se você acha que o transito de São Paulo é caótico, ainda não viu nada.
Em Mumbai não tem faixas, o importante é chegar onde quer e para isso vale tudo. Assim como para trocar a marcha você precisa pisar na embreagem, eles precisam da buzina. Buzina para tudo! Faz parte do ato de dirigir. É normal, vimos até carros e caminhões com uma placa atrás dizendo: Buzine por favor. Além disso, a sensação é de bagunça: carros, motos, animais e pessoas andando nas ruas em direções opostas e ao mesmo tempo é uma cena natural do cotidiano de quem vive aqui.
A cidade de Mumbai, com cerca de 20 milhões de pessoas, tem a maior favela da Ásia, chamada Dharavi, e os sinais de pobreza são chocantes em toda cidade. Mas por outro lado, vi um povo batalhador, que acorda cedo, demora horas para chegar no trabalho e trabalha duro para sustentar a família.
Quando saímos para conhecer a região, a caminho do monumento conhecido como Gateway of India, perto do porto da cidade, mais uma surpresa: senti como uma pop star nas ruas. Várias pessoas pedindo para tirar fotos com a gente. Fotos individuais, em grupo, e cada vez vinha mais gente. Não estava entendo nada, até conhecer um pouco mais sobre a vida do povo indiano.
Em meio a correria da vida cotidiana, lutando para colocar na mesa o pão de cada dia, não sobra espaço ou condições financeiras para visitar o mundo lá fora. Pelo menos para maioria das pessoas. Claro que tem muita gente que consegue sair do país em busca de algo melhor.
A pobreza é tão grande que um dos poucos entretenimentos que a população tem é a televisão. Bollywood é a maior indústria de cinema do mundo, e a única que produz filmes acessíveis nas centenas dialetos que tem no país. Além disso, o governo, em seus programas sociais, oferece televisões para as comunidades carentes. Ver um estrangeiro para eles é como um artista, uma pessoa diferente de sua cor, que se veste com roupas diferentes e tem costumes esquisitos. É como se fosse uma janela para o mundo lá fora. Alguns indianos também acreditam que é sinal de boa sorte pois são pessoas que trazem boas energias.
Vale lembrar que muita gente aqui não tem oportunidade de frequentar uma universidade ou sequer é alfabetizada. Principalmente mulheres que culturalmente tem o “dever” de cuidar da casa. Podem imaginar a influência que a televisão causa na vida dessas pessoas?
Visitando as cavernas na região de Aurangabad vimos várias placas dizendo que era proibido tirar foto de qualquer pessoa sem seu consentimento. Imaginamos que o local deveria ser repleto de turistas, mas olhando ao redor notamos que 85% das pessoas que estavam visitando as cavernas eram indianos: famílias, excursões de escolas e grupo de amigos. Era um lugar muito famoso de turismo local. As placas eram para que eles respeitassem os poucos estrangeiros que estavam lá. Primeiro vem um sorrisinho, depois mostram a máquina e pedem uma, duas ou mais fotos. As crianças ficavam empolgadas e agitadas para tirar fotos ou para dizer um simples “oi” para gente. Acho que tirei mais fotos com os outros do que das cavernas que estávamos visitando.
Para mulheres, as vezes é preciso cuidado, principalmente quando vem um grupo só de homens pedindo para tirar foto. Nem sempre eles têm boas intenções e ainda ficam fazendo piadinhas que não conseguimos entender. Mas quando são famílias e crianças não tem problema nenhum. As mulheres indianas são as que ficam mais ansiosas para tirar fotos, mas elas são tímidas e se estiverem com seus maridos, são eles quem vão pedir as fotos. As crianças então, dá para ver no brilho de seus olhos a euforia delas por conseguir uma simples foto.
Pedindo de forma educada, sem malícia, não custa nada trazer um pouco de alegria para essas pessoas que enxergam o mundo lá fora através dos estrangeiros que visitam seu país.
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