O povo indiano é muito simpático e adoram conversar. O engraçado é que depois do tradicional “Olá” a próxima pergunta é “De onde você vem?” ou “Qual seu país de origem?”.
Especialmente os jovens que falam inglês, quando veem estrangeiros, se aproximam carregados de perguntas e curiosos para saber não só sobre nosso país de origem, mas o que estamos achando do país deles, o que estamos fazendo etc. Mas nós também somos curiosos e nas nossas andanças pela Índia tivemos oportunidade de conversar e conhecer muita gente bacana.
Dentre as várias pessoas que conhecemos, dois meninos de quase a mesma idade nos chamaram a atenção, justamente pela forma tão diferente de ver a vida que cada um deles tem: Simran e Kedar.
Conhecemos Simran no trem a caminho de Agra. O Mau estava andando pelo trem tirando fotos quando Simran e seus amigos o convidaram para sentar com eles. As risadas eram tão altas que eu fui ver o que estava acontecendo. O Mau estava ensinando palavras em português e eles rindo muito um do outro enquanto repetiam as palavras. Depois Simran veio até nosso vagão e contou um pouco sobre ele.
Simran (foto à esquerda) tem 14 anos, estava viajando com sua família para um festival Sikh, religião da qual faz parte, no norte da Índia. Seu pai mora nos EUA, segundo ele, trabalhando com construções. Sua mãe é dona de casa e fica na Índia com ele e seus irmãos. Ele estava aproveitando as férias do pai para viajar com a família e participar deste importante festival dentro de sua religião.
Perguntei o que Simran mais queria em sua vida e ele disse que não vê a hora de ir morar com o pai nos EUA. Eu disse que legal, assim você pode estudar nos EUA e seguir uma boa profissão. Mas, para minha surpresa, ele respondeu que não queria estudar porque não gostava e também porque não era preciso estudar para arrumar trabalho. Infelizmente, esse é o exemplo que ele tem. Seus pais nunca foram para universidade, têm uma vida razoável e tudo certo. Para que estudar? Mesmo dando exemplos do que Simran poderia fazer e crescer na vida dedicando parte do seu tempo aos estudos, não deu certo. Perguntei qual profissão ele gostaria de ter e ele respondeu dizendo: “a que Deus indicar para mim”. Sobre mulheres, disse que quer casar e ter apenas 2 filhos. Pode ser uma mulher indiana ou americana, ele brincava.
Depois dessa viagem de trem, o Mau deu seu número de celular para ele, e sempre recebe mensagens de Simran perguntando onde estamos, o que estamos fazendo e se está tudo bem.
Já o Kedar (foto à direita) tem 12 anos, se aproximou da gente em Varanasi para vender cartões postais e adesivos, e nos surpreendeu com sua simpatia. A gente não queria comprar nada, mas o Mau ofereceu uma ajuda e ele recusou falando que não queria dinheiro, seu trabalho era vender e não pedir dinheiro para os outros, ele dizia.
Todo extrovertido, caminhou mais de 2 horas conosco pelos ghats da cidade contando sobre sua vida e também nos fazendo um monte de perguntas. Seu tio tem um pequeno comércio local e ele o ajuda vendendo algumas coisas depois da escola. Diferente de Simran, Kedar adora estudar e quer ser um guia turístico, para explicar cada detalhe da história de seu país aos estrangeiros que o visitam. Ele sabe que para ser um guia é preciso estudar bastante e, além disso, ser honesto, pois assim pode conquistar a confiança de cada vez gente. Já praticando sua futura profissão, no caminho ele foi nos explicando cada um dos Deuses hindus que víamos e mostrando os pequenos templos por onde passávamos.
Sua mãe infelizmente já faleceu, e ele mora com seu pai, seus 4 irmãos e 1 irmã. Kedar é o mais novo da família. Seu irmão mais velho é guia de turismo para japoneses, pois morou um tempo no Japão. Era bonito ver a sua admiração pelo irmão mais velho. Falando sobre mulheres, Kedar não quer nem casar, disse que é muita dor de cabeça e dava risada.
Dois adolescentes com diferentes pensamentos e um sonho do que fazer em suas vidas. Por óbvio, como são muito novos, é bem provável que tais ideias e sonhos mudem rapidamente em alguns anos. De qualquer forma, fez eu pensar quantos jovens aqui na Índia tem anseios semelhantes, seja por um trabalho qualquer ou pela vontade de estudar e apreender cada vez mais.
Para mim, o ideal seria juntar as duas coisas, mas o meio em que estes jovens vivem é tão complexo, que minha cabeça ferve de questões do que é certo ou errado. Como não existe a verdade absoluta, fica a critério de cada um escolher o seu futuro, da maneira que achar a mais correta.
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