Primeiro dia em Tóquio e não sabíamos por onde começar de tantas coisas para fazer. Locomoção é fácil, mas é um absurdo de opções.
Primeiro dia em Tóquio e não sabíamos por onde começar de tantas coisas para fazer. Locomoção é fácil, mas é um absurdo de opções.
Eu já tinha ouvido dizer que na China eles comiam de tudo, mas a cada dia que passeamos pelo país descobrimos algo diferente, considerando os hábitos alimentares chineses.
No sábado de 26 de abril o mundo se abalou com a notícia do terremoto que atingiu o Nepal, partes da Índia e do Tibet. Estávamos na China, em Pequim, quando vimos a notícia na televisão. Ainda não acredito que somente 2 dias antes da tragédia estávamos passeando em Kathmandu, nos locais que hoje estão destruídos por essa tragédia.
Enfrentar o desafio de fazer uma trilha por 16 dias não foi das experiências mais fáceis durante nossa viagem pelo mundo. Tenho que confessar que por mais que a gente tenha caminhado bastante por todos os lugares que passamos, encarar 16 dias de subidas e descidas pelas montanhas, com caminhos cheios de pedras e rios, as vezes por mais de 8 horas por dia, não é moleza.
Claro que para algumas pessoas que adoram fazer trilhas e costumam fazer frequentemente, nosso percurso pode ser até “tranquilo”, tudo depende da quantidade de dias que deseja caminhar e até onde está disposto a chegar. No Nepal, há muitos lugares remotos a serem explorados e isso encanta muita gente.
Escolhemos seguir o percurso rumo ao Tsum Valley, ao norte do Nepal, na fronteira com o Tibet (China). O Tsum Valley é também chamado de Vale da Felicidade porque é tão escondido e difícil de chegar que o Guru Padmasambhava assim o chamou quando previu que no futuro haveria escassez de muitos recursos, mas as pessoas que vivessem neste Vale, por ser um local tão remoto e isolado, não sofreriam com isso.
O Vale é rodeado de montanhas com alguns rios passando dentro dele. Água não falta e energia tem em alguns lugares, mas eles vivem facilmente sem ela. A comida é muito simples, à base de arroz, batata e lentilha, tudo de plantações locais. Posso dizer que as pessoas que vivem nos vilarejos dessa região tem uma vida bastante diferente daquela que estamos acostumados.
Logo no primeiro dia, pegamos um jipe de Kathmandu por mais de 7 horas até chegar a primeira surpresa. O jipe encalhou porque as condições da estrada eram tão ruins que não dava para seguir em frente. A solução: colocar as malas nas costas e sair andando. Foram mais de 2 horas de caminhada, sendo mais da metade no escuro, porque o sol já tinha se posto.
Mal sabíamos que aquilo não era nada frente ao que nos aguardava. O segundo dia teve greve de ônibus (que nos levaria pelo menos 3 horas para frente) Resultado: foram quase 10 horas de caminhada. Daí para frente não tinha mais como utilizar nenhum meio de transporte porque começaria a trilha pelas montanhas. Tivemos que reduzir nosso ritmo para uma média de 5 a 6 horas de caminhada por dia, senão ficaria muito difícil para chegar ao Tsum. Além disso, não adiantaria nada a caminhada se ela fosse mais dolorosa do que prazerosa.
Depois de alcançar o Tsum Valley, fomos até o vilarejo de Nile, chegando próximo aos 3.500 metros de altura. As últimas subidas na montanha para alcançar essa altitude não foram fáceis para nós. Mesmo assim, nossa intenção era seguir em frente até Mu Gonpa, mas o tempo não ajudou, pois começou a chover muito e ficamos um dia descansando em Chhokangparo, esperando a chuva passar. Não valia a pena se aventurar na chuva com o chão todo escorregadio e sem muita paisagem para aprecicar. Percorremos cerca de 110 Km entre subidas e descidas na montanha para chegar até Nile, no Tsum Valley. Depois era hora de se preparar para a volta, o que não seria moleza pois o caminho era longo.
Claro que toda essa experiência é também recompensada pela paisagem e pela natureza incrível do lugar. A mistura do verde das árvores com o branco da neve no topo das montanhas é fascinante.
Outro ponto que merece destaque são as pessoas que encontramos pelo caminho e que abriram as portas de suas casas para nos receber ou oferecer uma simples xícara de chá. Mesmo sem entender o que falávamos, sempre havia um sorriso no rosto para nos receber. As casas eram muito simples, as vezes nem cama tinha, dormiam em tábuas de madeira com um carpete em cima.
Cruzamos com muitos moradores pelas montanhas carregando cestas, apoiadas em suas cabeças, repletas de coisas e bastante pesadas. É impressionante a força e determinação dessas pessoas. O Vale é tão afastado que não tem jeito a não ser carregar tudo nas costas ou na cabeça. Não tem idade para fazer esse percurso várias e várias vezes, sejam crianças ou idosos, o caminho pelas montanhas é a única forma de se locomover. Algumas mercadorias são também carregadas pelos burros, mas alguns lugares da trilha são tão perigosos que os objetos mais valiosos são carregados pelas pessoas, com medo de perderem o objeto e o burro.
Hospedagem
Ficamos hospedados em pequenas pousadas e casas de moradores locais com quartos simples, onde havia somente a cama com um lençol e um travesseiro. Levamos um saco de dormir para colocar em cima da cama e fazer de cobertor. Banheiro, na maioria das vezes, era do lado de fora das casas, considerando que poderia ser somente um buraco no chão. Papel higiênico não vimos em nenhum lugar; a sorte é que levamos o nosso.
Banho?
Em uma viagem como essa, não tem alternativa a não ser deixar a vaidade de lado. É muito difícil tomar banho todos os dias. Água fria na maioria dos lugares, muito fria porque vinha das montanhas. Achamos alguns poucos lugares com água quente e na maioria dos casos era preciso pagar uma taxa extra pelo banho, mas nem preciso falar o quanto valia a pena.
O problema era que nem sempre tinha chuveiro, sendo que as vezes era uma torneira ou somente uma mangueira. Ok, sempre há uma solução: o tradicional banho de canequinha com água fervida pode funcionar, mas nos lugares de maior altitude, o vento era tão gelado que não havia canequinha suficiente para esquentar.
Por causa do frio e da falta de chuveiro em algumas casas que passamos, chegamos a ficar 6 dias sem tomar banho. Nem o shampoo seco que eu tinha levado salvou e eu não via a hora de encontrar uma água quentinha.
Comida
A comida era simples, porém, razoável. Alguns moradores improvisavam um mercadinho na frente de suas casas e ofereciam refeições. Mas, na maioria das vezes, comemos nos lugares em que ficamos hospedados. Dhalbhat é o prato mais comum e tradicional da região, qie inclui lentilhas, arroz e batatas com algum vegetal. É impressionante como eles comem isso todos os dias e sem enjoar. Nossas refeições variavam entre o Dhalbhat, omelete, arroz com batatas, noddles, spaguetti com queijo ou ketchup (muito raro encontrar molho de tomate), e o prato preferido do Mau, que eram os dumplings, chamados de Mo:Mo (vegetais ou carne envoltos em uma massa a base de arroz, podendo ser fritos ou cozidos). Mas era preciso ficar atento, os casos de diarreia são comuns por causa da falta de higiene em alguns locais.
Como conseguir um guia?
A maioria das pessoas que visitam o Nepal tem interesse em fazer algum tipo de trilha, até porque é uma região que nem tudo é acessível por meio dos transportes tradicionais. Há muitas agências locais que vendem os mais variados percursos. É possível encontrá-las facilmente pela internet e mandar um e-mail de acordo com o tipo de trilha, duração e percurso que tiver maior interesse. Geralmente, as pessoas contratam um guia e um carregador, porque dependendo do tipo da trilha, não é fácil carregar sua mala. As agências montam os pacotes incluindo o guia, o carregador, a hospedagem e as refeições, mas tudo pode ser negociável. Assegure-se que também esteja inclusa a permissão do governo, uma taxa específica que é preciso pagar dependendo do percurso a ser realizado.
Dicas para quem quiser se aventurar em uma experiência como esta e não está acostumado a fazer trilha como nós:
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Conhecer a China nos surpreendeu de forma muito positiva. Não imaginávamos encontrar cidades tão bem organizado, tecnológicas e com um povo mais carismático do que pensávamos. Vou confessar que nós tínhamos alguns preconceitos em relação a China, formados por estereótipos que estamos acostumados a ver em relação ao povo chinês. Visitar o país e conhecer de perto a cultura chinesa mudou nossa opinião sobre vários aspectos.
Passamos pelas duas maiores metrópoles, Pequim e Shanghai, e também fomos às cidades de Guilin e Yangshuo, no interior do país, conhecidas pela fascinante beleza natural das suas montanhas. São lugares bastante populares para quem vem visitar a China, mas, mesmo assim, não deixaram de nos surpreender.
É verdade que a maioria das pessoas não fala inglês e, para se virar, pode ser um pouco complicado. Nos restaurantes, a maioria dos cardápios são repletos de fotografias de cada prato; basta apontar o dedo para escolher sua refeição. Só fica difícil se quiser mudar algum ingrediente do prato; tentei algumas vezes, mas não deu muito certo.
Para locomoção, nossa estratégia era sempre ter escrito em chinês o lugar que queríamos ir. Todas as pessoas que pedimos informações na rua foram muito simpáticas e, mesmo falando em chinês, davam um jeitinho de explicar. Alguns procuravam o lugar no aplicativo de GPS do telefone deles e nos mostravam o mapa com a direção.
Locomoção não foi um problema. O trem é a forma mais barata de chegar em qualquer cidade, mas, dependendo da distância, pode passar mais de 24 horas dentro do trem. Nas grandes cidades como Pequim e Shanghai, andar de metrô é muito fácil. Tudo é muito bem sinalizado e o metro leva aos principais pontos da cidade. Em cada estação há placas apontando a direção dos principais lugares da região.
Mesmo com mais de 1 bilhão de pessoas no país, as cidades grandes são mais organizadas do que eu pensava. Em Pequim, eles usam muitas passagens subterrâneas para pedestres atravessarem as grandes avenidas, o que faz o transito fluir muito melhor.
As atrações turísticas são sempre cheias de gente, mas não pegamos filas absurdas para comprar ingressos. Na maioria dos locais, há muitos guichês e os lugares são enormes, e mesmo tendo muita gente circulando, tem lugar para todo mundo. No entanto, nos feriados locais, é preciso se programar com antecedência, pois o povo chinês adora viajar e passear. Alguns lugares podem fechar as portas se chegarem na capacidade máxima de pessoas.
As ruas são limpas e há lixeiras com opção para recicláveis e funcionários públicos de limpeza passando com moto elétrica, recolhendo pequenos resíduos jogados no chão. O chinês tem o grosseiro hábito de cuspir em qualquer canto, mas, em Pequim, vimos várias pessoas sendo multadas por fazerem isso. Já em outras cidades, não é bem assim, mas achei que ia presenciar muito mais esse tipo de coisa do que, de fato, vi.
Logo que chegamos, no início de maio, o assunto “impacto ambiental” tomou conta dos noticiários do país. A China sempre foi criticada por ser o maior emissor de gases de efeito estufa do mundo. Setenta por cento da matriz energética do país é a base de carvão. Com a indústria pesada, a poluição está chegando a níveis absurdos. É muito comum ver as pessoas andando de máscaras pelas ruas.
Uma jornalista chinesa chamada Chai Jing lançou o documentário chamado “Under the Dome”, que revela os verdadeiros custos para sociedade devido à crise ambiental que a China enfrenta, expondo a falta de supervisão do governo. O governo ficou tão incomodado com tal documentário, que bloqueou o acesso ao vídeo na internet.
Contudo, o Governo Chinês também anunciou medidas drásticas para reduzir o consumo de carvão nos próximos 5 anos, que incluem fechar mais de 300 fábricas e 2.000 minas irregulares, além de impor limites para o uso de carvão. Os jornais falam em alto investimento em energias renováveis principalmente solar e eólica.
Eu tinha uma impressão de que a China não se importava com o impacto que causa no mundo, mas, para minha surpresa, encontrei várias iniciativas bacanas pelo país e também notei uma preocupação socioambiental que não esperava.
Nas estações de metrôs, vimos várias campanhas para acabar com o tráfico de marfim. Supermercados e lojas não oferecem gratuitamente sacolas plásticas e há projetos para reduzir o uso do carro. Além disso, as cidades possuem boa estrutura de ciclovias e muita gente utiliza a bicicleta como meio de locomoção, competindo com a moto elétrica, que é utilizada pela grande maioria da população.
Claro que o desafio é imenso, ainda mais em um país tão populoso, mas é muito bom ver que algumas medidas vêm sendo tomadas e que o governo está tentando fazer algo para mudar.
Acho que esperávamos encontrar um país mais bagunçado e, no final, vimos mais pontos positivos e iniciativas bacanas que problemas e descaso. Não duvido que daqui alguns anos a China comece a atrair muito mais turistas do que outros países da Ásia.
Referências:
http://thediplomat.com/2015/03/why-china-cant-fix-its-environment/
http://www.japantimes.co.jp/news/2015/03/08/asia-pacific/science-health-asia-pacific/environmental-issues-top-major-legislative-meeting-in-china/#.VVyiimdFC2J
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De todos os países do mundo, com tantos lugares incríveis para se conhecer, porque conhecer o Butão? Mas onde fica isso mesmo? O Butão, que fica na Ásia entre os gigantes Índia e China, ganhou fama depois que desenvolveu indicadores para medir o desenvolvimento do país por meio de um Índice de Felicidade Interna Bruta.
Como duas cidades podem ser tão iguais e tão diferentes ao mesmo tempo? Ambas sagradas por se situarem às margens do rio Ganges, são cidades que atraem pelo seu espiritualismo e pela fé das pessoas que lá vivem.
O povo indiano é muito simpático e adoram conversar. O engraçado é que depois do tradicional “Olá” a próxima pergunta é “De onde você vem?” ou “Qual seu país de origem?”.
Em nossa passagem pela Índia, a parada em Nova Deli era quase obrigatória. Não somente porque precisávamos pegar o voo de lá, mas por ser a capital desse país tão exótico como é a Índia. Nova Deli é a capital do país desde 1947, tendo já sido a capital da colónia britânica antes da independência.
Para conhecer a capital, estava na internet procurando algo fora do tradicional passeio turístico quando encontrei uma simples e criativa ideia da ONG Salaam Baalak Trust. Eles oferecem um city tour por uma região da cidade em troca de doações para apoiar seus projetos.
A ONG trabalha com a inclusão social de crianças de rua, oferecendo abrigo, educação, assistência médica e dando condições para que elas possam ter uma vida digna na sociedade. Segundo eles, são cerca de 11 milhões de crianças que vivem nas ruas por toda a Índia. Aproximadamente 2 milhões de crianças só em Deli. O número é assustador!
São vários os motivos que levam as crianças a fugirem de casa ou mesmo a serem abandonadas pelos pais. Drogas e alcoolismo são os principais dele, além de muita pobreza e miséria, que fazem com que os pais abandonem seus filhos por não ter condições de cria-los. Especialmente para meninas, há centenas de casos de abuso sexual de crianças. A influência da televisão e de Bollywood alimenta o sonho de uma vida melhor nos grandes centros urbanos. Ainda há casos de meninas que se apaixonam por meninos de uma religião diferente da sua, e como não é permitido ficar juntos pela sua família, eles acabam fugindo. Depois os meninos as abandonam quando a situação começa a ficar apertada.
Essas crianças conseguem viajar facilmente de trem, escondidas da fiscalização, e chegam perdidas na cidade grande. Muitos meninos acabam se envolvendo com tráfico de drogas, ou viram ladrões de carteira, e as meninas vão para prostituição. Perto das estações de trem, onde há sempre muito movimento, viram pedintes nas ruas e conseguem pelo menos o pão de cada dia.
A ONG Salaam Baalak Trust tira essas crianças das ruas, entra em contato com suas famílias, dá condições para que elas voltem a estudar e posteriormente arrumem um emprego.
Em uma ideia genial de captação de recursos, os jovens beneficiados pela ONG realizam diariamente um city walking tour para turistas na região de Paharganj. São meninos que passaram pelos projetos da ONG e hoje contam suas histórias de como era viver nas ruas, além das informações turísticas sobre os locais que visitamos e um pouco da história da cidade. Conhecer a cidade sob o olhar de quem vive nela, conhece seus os desafios e ainda tem uma história de vitória para contar, não poderia ser melhor! No final do passeio, a doação mínima é de aproximadamente R$ 15,00, mas cada um dá a quantia que julga pertinente.
Conhecemos 4 jovens que hoje são guias, 3 garotos e 1 garota. Todos eles têm muito prazer em fazer parte do programa de city tour, principalmente por ser uma ótima forma de treinarem seu inglês e apreenderem sobre outras culturas. Eles contam com orgulho exemplos de outros jovens que eram guias e hoje estão estudando no exterior ou conquistaram ótimos empregos.
Além disso, visitamos um dos abrigos para as crianças resgatadas das ruas cujos os pais estão sendo localizados. Super simpáticas, ficaram empolgadíssimas ao brincar com os estrangeiros que visitavam o lugar.
Para a gente, quando chegamos em uma cidade caótica e agitada como Nova Deli, encontrar uma oportunidade de conhecer a região de forma segura e ainda repleta de histórias interessantes é sensacional, além de transmitir seriedade e divulgar o trabalho da ONG. Um verdadeiro exemplo de ganha-ganha para todos os envolvidos, e uma ótima dica para outras organizações sociais pelo mundo.
ONG Salaam Baalak Trust : www.salaambaalaktrust.com
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